VATICANO, 5 de set de 2014 às 13:40
O Papa Francisco converteu-se na tarde de ontem como o primeiro Pontífice a usar a plataforma Hangout do Google. Da Sala do Sínodo do Vaticano entrou em contato por videoconferência com cinco grupos de estudantes da Austrália, El Salvador, África do Sul, Turquia e Israel.
O Papa Francisco participou da videoconferência para promover a Scholas Occurrentes, uma entidade educativa de bem público, que vincula a tecnologia, a arte e o esporte para fomentar a integração social e a cultura do encontro.
A primeira chamada via Hangout chegou da Austrália, com Cameron, um jovem que se interessa pelas campanhas internacionais pela paz e por ajudar os refugiados, e perguntou ao Papa como avançar para construir pontes.
“Na vida vocês podem fazer duas coisas opostas: construir pontes ou levantar muros. Os muros separam, dividem; as pontes aproximam”. “O que podem fazer? Continuar comunicando as experiências que vocês fazem. Vocês têm muito no coração e podem realizar muitas coisas... e comunicá-las - para que outros se inspirem -, escutar dos outros aquilo que dizem a vocês. E com esta comunicação ninguém comanda, mas tudo funciona! É a espontaneidade da vida: é dizer sim à vida! Comunicar é dar; comunicar é generosidade; comunicar é respeito; comunicar é evitar qualquer tipo de comunicação. Sigam em frente, jovens! Me agrada aquilo que vocês dizem e fazem. Que Deus os abençoe”, disse o Papa.
Eial, da cidade de Tel Aviv, Israel, explicou ao Papa Francisco em língua espanhola que provém de uma escola inter-religiosa que reúne estudantes cristãos, judeus e muçulmanos, e onde se falam várias línguas.
“Obrigado, vejo que vocês se viram bem e sabem comunicar-se em diferentes idiomas e com a identidade da própria religião. Isso é lindo”, disse o Papa.
“Quando quer vir para cá, para Israel?”, perguntou Eial. O Papa disse que “eu gostaria de voltar, estive faz uns meses, e vim muito contente”.
“Eu não tenho essa bola de cristal as bruxas têm para olhar o futuro”
De Istambul um grupo de jovens agradeceu ao Papa pelo seu esforço por alcançar a paz e o diálogo entre as populações, compartilharam com ele a sua luta contra o racismo e a discriminação entre etnias, e lhe perguntaram quais são as suas esperanças para o futuro.
“Obrigado pela pergunta e pela reflexão, que vocês os jovens não querem a guerra, querem a paz! E isto vocês devem gritar com o coração, de dentro: ‘Queremos a paz!’ Eu não tenho essa bola de cristal que as bruxas têm para olhar o futuro, mas quero dizer uma coisa: Sabes onde está o futuro? Está no coração, está na tua mente e está em tuas mãos! Se tu sentes bem, se tu pensas bem e se tu, com as tuas mãos, segue em frente com este pensar bem e este sentimento bom, o futuro será melhor”, animou ao Papa.
“O futuro o tem os jovens! Porém atenção, jovens com duas qualidades: jovens com as asas e jovens com as raízes. Jovens que tenham asas para voar, para sonhar, para criar; e que tenham raízes para receber dos idosos o conhecimento que somente os maiores podem dar. Por isto o futuro está em vossas mãos, se tiverdes asas e raízes. Ter asas para sonhar coisas boas, para sonhar um mundo melhor, para protestar contra as guerras. Por outro lado, respeitar o conhecimento que vocês têm recebido dos anciãos, dos teus pais, dos teus avós; dos anciãos do teu povo. O futuro está nas vossas mãos. Apeguem-se a ele para que seja melhor”, acrescentou.
Um estudante chamado Christian da África do Sul despertou a risada de todos com o seu comentário: “Santo Padre, vou lhe fazer algumas perguntas, não fique nervoso”, e perguntou ao Pontífice sobre a origem da plataforma escolar Scholas Occurrentes.
“Scholas surgiu de uma ideia deste senhor que está aqui, José María del Curral, e o acompanhou Enrique Palmeiro, formando uma escola de vizinhos na Diocese de Buenos Aires, uma rede de escolas próximas para construir pontes entre as escolas da Diocese. Foram construídas muitas pontes, também algumas pontes transoceânicas. Começou como algo pequeno, como uma ilusão, como alguma coisa que não sabíamos quem seria atingido. Hoje podemos comunicar. Por quê? Porque estamos convencidos de que a juventude tem necessidade de comunicar, tem necessidade de mostrar e partilhar os seus valores”, explicou.
“A juventude hoje tem necessidade de três pilares chaves: educação, esporte e cultura. Por isto ‘Scholas’ junta tudo: jogamos uma partida de futebol; se faz escola e se faz cultura. Educação, esporte e cultura. O esporte é importante porque ensina a jogar em equipe: o esporte salva do egoísmo, ajuda a não sermos egoístas! Por isto é importante trabalhar em equipe, estudar em equipe e seguir no caminho da vida juntos, em equipe. Como vê, não me assustei com a pergunta. Agradeço-lhe muito. E sigam em frente neste caminho da comunicação, de construir pontes e de buscar a paz através a educação, o esporte e a cultura. Obrigado”.
Da América Latina, El Salvador, e rodeado de seus amigos, Ernesto falou com o Papa do bairro da Campanária e lhe agradeceu o seu trabalho.
“Agradeço-te a saudação de seu bairro, seu povo, com seus amigos. Eu sei todo o trabalho que estão fazendo vocês de El Salvador, José María me contou isso, sei que estão avançando o bastante, e que estão trabalhando forte na educação. Mas lembra-te o que disse ao seu companheiro na África do Sul: educação, esporte e cultura. Porque assim como existem pontes que nos unem, existem também comunicações que destroem!”.
“Estejam bem atentos! Quando existem grupos que procuram a destruição, que buscam a guerra e que não sabem fazer um trabalho de equipe, defendam-se entre vocês como equipe, como grupo, defendendo-vos daqueles que querem ‘atomizar-vos’ e tirar-lhes a força do grupo. Que Deus os abençoe!”, disse o Papa.
Por último, o Papa Francisco enviou uma mensagem a todos os estudantes e a todos os jovens do mundo: “Quero lhes dizer uma coisa que não é minha, mas que Jesus dizia muitas vezes: ‘Não tenham medo!’...Sigam em frente. Construam pontes de paz. Joguem em equipe e tornem o futuro melhor, mas recordem-se que o futuro está em vossas mãos. Sonhem o futuro voando, mas não esqueçam a herança cultural, sapiencial e religiosa que vos deixaram os anciãos. Em frente, com coragem! Construam o futuro!”, concluiu.